sábado, 23 de maio de 2009

CASO Clínico: Crise falciforme

1. IDENTIFICAÇÃO:

S.C.T., 4 anos, feminino, negra, brasileira, natural de Itaboraí, moradora da R. Porto das Caixas, 45. Itaboraí.

2. QUEIXA PRINCIPAL:

“Dores em pernas, braços e barriga”

3. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL:

Mãe relata que paciente, portadora de anemia falciforme, apresentou há cerca de 10 dias dor intensa em mesogástrio, coxas, antebraços e dedos das mãos, sendo-lhe administradas 12 gotas de dipirona, sem qualquer melhora dos sintomas. Como observou sinais de agravamento da dor, durante os dois dias que se seguiram, ela procurou o serviço de Emergência Pediátrica onde, há oito dias, a pré-escolar foi internada. Nega outras queixas.

4. HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA:

A anemia falciforme foi diagnosticada em 2001, na ocasião de sua primeira internação por crise dolorosa,. Mãe refere incontáveis internações desde então, sendo que três delas deram-: pneumonia, artrite em cotovelo esquerdo e enteroinfecção aguda. Nega cirurgias ou transfusões e relata alergia a penicilina. Teve varicela há cerca de 1 ano e nega outras doenças comuns da infância.

5. HISTÓRIA FAMILIAR:

Durante a primeira internação da criança, a mãe e o irmão da paciente foram submetidos a exames de eletroforese de hemoglobina, cujos resultados foram: mãe portadora de estigma falcêmico e irmão com anemia falciforme. A tia paterna da criança também apresentava anemia falciforme. Uma tia materna possui trombose e a avó, hipertensão arterial.

História Social. Mora em casa de alvenaria, com 3 cômodos, onde habitam 4 pessoas. Paciente divide a cama com a mãe.

6. HISTÓRIA GESTACIONAL E DO PARTO:

Mãe afirma ter comparecido a 6 consultas pré-natais, em Posto de saúde. Não sabe informar resultados dos exames realizados na época, mas diz que fez uso de sulfato ferroso para anemia. G: II; P: II (partos vaginais); A: 0. Nega tabagismo, etilismo ou uso de drogas.

7. HISTÓRIA PERINATAL:

Nascida de parto vaginal, apresentação cefálica, com o peso de 2.060 g e comprimento ignorado. Teve alta após três dias de vida. Tipo sangüíneo: O positivo.

8. HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR:

Emitiu monossílabos aos 4 meses e andou aos 11 meses. Até o momento, utiliza fraldas e urina no leito. A mãe não recorda os demais marcos do desenvolvimento.

9. HISTÓRIA VACINAL:

Refere vacinação em dia, porém não apresentou o cartão de vacinação da paciente.

10. HISTÓRIA ALIMENTAR:

O aleitamento exclusivo durou 2 meses e o misto, 3 meses. Alimentos sólidos foram introduzidos aos 8 meses. A alimentação atual consiste de 3 refeições diárias, compostas de todos os nutrientes essenciais.

Realiza 5 refeições diárias baseada em carboidratos, lipídeos e proteínas. Relata baixa ingesta de fibras vegetais.

11. EXAME FÍSICO:

Somatoscopia:

Peso: 13,7 kg (P10) FR: 24 irpm

Paciente em bom estado geral, normo-hidratada, anictérica, hipocorada (+/4+), acianótica, eupneica, deitada no leito em posição antálgica (decúbito lateral esquerdo e membros inferiores fletidos).

Cabeça e Pescoço: Dentes em péssimo estado de conservação.

Tórax/Sistema Respiratório: Murmúrio vesicular universalmente audível, sem ruídos adventícios.

Sistema Cardiovascular: Ritmo cardíaco regular, em 2 tempos, bulhas normofonéticas, sopro sistólico (+/6+), B4 (?)

Abdome: Flácido, timpânico, indolor à palpação superficial e profunda, Traube maciço, baço a 2 cm do rebordo costal, sem fígado palpável, sem outras massas. Peristalse presente.

Sistema Gênito-Urinário: Sem alterações detectadas.

Extremidades: Membros superiores sem alterações. Membros inferiores dolorosos à mobilização. Sem edema.

IMAGEM:

PERGUNTAS:

1. Quais as hipóteses diagnósticas que poderiam ser enumeradas?

2. Qual seria sua conduta clínica?





Confira o diagnóstico

EVOLUÇÃO CLÍNICA

12/08:

1. Soro Fisiológico 0,9% 250ml EV correndo em 2 horas

2. Dipirona 0,6ml EV agora e até 6/6h

3. Dieta para Idade.

19:30h:

Queixa: Chorando c/ muita dor

4. Dolantina 0,5ml (50mg/ml) + 9,5 ml água destilada.

5. Hidratação venosa para 8 horas. Volume Total = 455ml - 57 ml/h

Inicio às 20h com a seguinte composição: SG 5% 450ml + NaCl 20% 4ml + KCl 10% 1,7ml.

13/08:

- 6h: Tax=37 ºC; chorando, c/ muita dor

1. Dieta livre

2. Soro 1:4 450ml + KCl 19,8% 4ml EV 8/8h

3. Dipirona 1ml EV 6/6h (feito SOS 08:45h)

4. Tylex 30mg 1/2cp VO 4/4h

- 12h: Tax=37ºC; chorando, queixosa (algia)

- 14h: Em vigência da dor foi feito Dipirona (SOS)

- 16h: Voltou a sentir dor; feito Tylex®.

- 18h: Tax=37ºC.

- 20h: Chorando; Feito Dipirona

Plantão: Dipirona regular +Tylex® (SOS) de 4 em 4 horas.

14/08:

- 03h: chorosa c/ dor intensa; feito Dipirona

- 05h: idem; feito Tylex ®

- 06h Tax=36,5ºC e ainda com dor

1) dieta livre

2) Soro 1:4 450ml + KCl 19,8% 4ml EV 8/8h

3) Dipirona 1ml EV 6/6h SOS

4) Tylex 30mg ½ cp VO 4/4h SOS

15/08:

1) Dieta livre

2) Hidratação Endovenosa para 6 horas (57 µgotas/min): SG 5% 340ml + 3) NaCl 20% 3 ml + KCl 10% 2,6 ml.

4) Dipirona 1ml EV 6/6h SOS

5) Tylex 30mg ½ cp VO 4/4h

6) Sinais vitais 6/6h;

7) Cuidados gerais;

15/08:

Tax: 36,6; FC: 120; FR: 28; PA: 100x40; 12.900g

A criança continua queixando-se de dor em joelho e., articulação coxo-femoral e., braço e antebraço direitos;

Encaminhada para a enfermaria de pré-escolar, continuou a HV e analgesia; com a manutenção do quadro, foi solicitado parecer da hematologia e da ortopedia na última terça-feira (19/08).

AVALIAÇÃO LABORATORIAL:

HEMOGRAMA

12/08/2003

Leucócitos

11,7 K/µL

Cont. Diferencial

1/4/0/0/3/55/30/7

Hemácias

2,97 M/µL

Hgb

7,41 g/dL

Hct

22,5 %

Plaquetas

241 K/µL

VCM

75,7 fl

Hemograma do dia 12/08 (entrada):

• Moderada anisocitose com micrócitos|macrócitos;

• Moderada hipocromia;

• Algumas hemácias em alvo e em foice;

• Plaquetas normais;

• Discreta policromatofilia;

ANEMIA FALCIFORME

Definição:

O que é:

• Hemoglobinopatia hereditária;

• Doença hemolítica crônica;

• Destruição prematura dos eritrócitos frágeis e pouco deformáveis;

Hemoglobina HbS:

  • Estruturalmente anormal: mutação puntiforme levando à substituição do ac. glutâmico por valina na 6ª posição da cadeia da ß-globina;
  • Indivíduos homozigotos;
  • Indivíduos heterozigotos;

Consequências:

  • Anemia crônica;
  • Oclusão vascular e alteraçoes isquêmicas;
  • Crises;

Fisiopatologia da Vaso Oclusão

  1. Desoxigenação:
  • Agregação e polimerização das moléculas de HbS;
  • Fibras de HbS;
  • Deformação eritróide;
  1. Afoiçamento:
  • Transitório e reversível
  • Lesão da membranab celular;
  • Forma anormal de eritrócitos;
  1. O que lesa a membrana?
  • Episódios de afoiçamento;
  • Precipitação das fibras de HbS;
  1. Consequências:
  • Fosforilação defeituosa;
  • Descolamento da mb celular do esqueleto subjacente;
  • Perda de H2O e K+ pela célula
  • Retenção de Ca++;
  • Dificuldade de manutenção do volume intracelular;
  • Células desidratadas e mais densas;
  1. Velocidade de polimerização da HbS:
  • Afetada pela [Hb]/hem, ou seja, pelo CHCM;
  • Quanto ↑ [Hb] celular, ↑ a probabilidade de contato e de interação entre as moléculas de HbS;
  1. Desidratação:
  2. Diminuição do pH:
  • Hb desoxigenada;:
  • Afoiçamento ↑ ;

Estes fatores fisiopatológicos são importantes para que ocorra a oclusão vascular.

Porém, não existe correlação entre a frequência de células irreversivelmente afoiçadas e a frequência ou gravidade dos episódios isquêmicos;

Então, o que ocorre?

  1. Células que têm HbS, mas que não estão afoiçadas => oclusão microvascular;
  2. Anormalidade da membrana;
    • Aumento da expressão de moléculas de adesão;
    • Adesão dos eritrócitos ao endométrio;
  3. Estreitamento dos microvasos;
  4. ↑ tempo necessário para trânsito dos eritrócitos normais;
  5. Ausência relativa de O2;

Manifestações Clínicas:

Dactlite Falciforme Aguda;

Síndrome mão-pé;

Tumefação dolorosa e em geral simétrica das mãos e pés;

Necrose isquêmica de pequenos ossos:

Estrangulamento do suprimento sanguíneo;

Radiografia;;

Crises álgicas:

Manifestação mais frequente;

Variabilidade da dor;

Crianças menores: quase sempre em membros;

Criancás maiores:

Cefaléia;

Dor torácica;

Dor abdominal;

Dor em dorso;

Fatores Desencadeantes (=> desoxigenação HbS => afoiçamento):

Febre;

Hipóxia;

Acidose;

Desidratação;

Infecção;

Exposição ao frio;

Outros...;

Nenhum;

Locais mais comuns:

Ossos;

Pulmões: infarto pulmonar; S. torácica aguda;

Fígado;

Cérebro: convulsão; AVC;

Baço: infarto esplênico;

Pênis: priapismo;

Diagnóstico:

Clínico;

Laboratorial;

Diagnóstico Clínico:

anemia; dores ósteoarticulres; dor abdominal ou torácica; edema articular; icterícia; esplenomegalia; infecções; história familiar;

Diagnóstico Laboratorial:

Hemograma: anemia normocrômica e normocítica, podendo ser hipocrômica e macrocítica; leucocitose com neutrofilia moderada;

Teste de afoiçamento ou teste de solubilidade: indicam a presença de HbS;

Eletroforese de hemoblobina: diagnóstico definitivo, a partir dos 6 meses de idade;

Diagnóstico Diferencial da Crise Álgica:

Dor abdominal;

Dor osteoarticular;

Diagnóstico Diferencial da Dor Abdominal:

Abdome agudo cirurgico;

Pancreatite;

Colecistite;

Infecção do trato urinário;

Pneumonias;

Diagnóstico Diferencial da dor Osteoarticular:

Osteomielite;

Artrite séptica;

Sinovite infecciosa;

Febre reumática;

Infecção;

Conduta:

Hemograma + plaquetas + reticulócitos;

Investigação de fontes de infecçãos;

Investigação de fatores precipitantes;

Eletrólitos séricos;

Urina (EAS e sedimentoscopia);

Hidratação venosa;

Analgesia;

Oxigenoterapia.

Transfusão sanguínea;

Imunização;

Conduta (aspiração óssea):

Se houver osteomielite ou artrite séptica, promover a aspiração óssea ou articular e enviá-la para cultura, assim como radiografia óssea ou ressonância magnética da região acometida;

Conduta (analgesia):

Iniciar com medicamentos que não sejam narcóticos (Piramido, Paracetamol). O Paracetamol deve ser usado com cautela em pacientes com Insuficiência Renal. A aspirina pode causar hiperuricemia.

Raramente serão necessários narcóticos mais potentes, tais como: Meperidina; Morfina;

Conduta (Hidratação Venosa):

Correção dos déficits de líquidos e eletrólitos e continuação da administração de volume uma vez corrigidas as deficiências. Alguns pacientes perdem sódio renal, devendo, portanto, os eletrólitos serem verificados dia sim dia não. A hidratação auxilia na diluição do sangue e na reversão da aglutinação das células falciformes dentro dos pequenos vasos.

Conduta (Oxigenoterapia):

Nas situações com hipóxia comprovada.

Conduta (Transfusão sanguínea): indicações:

Crise aplástica;

Crise dolorosa que não responde a tratamento após dias;

Medida pré-operatória;

Prevenção de AVC em crianças com anemia falciforme e ulta-sonografia transcranianas com doppler anormal;

Complicações graves (miocardiopatias, AVC etc.)

Prevenção da dor:

evitar hipóxia, desidratação, resfriamento da pele, natação em água fria.

Imunização na Anemia Falciforme:

Pneumococos;

Hepatite B;

Haemophilus:

Imunização (Pneumococos):

Deve ser feita a partir dos 2 anos de idade, com reforços a cada 5 anos , sendo contra indicado realização de reforços em períodos menores que 5 anos, uma vez que os efeitos adversos da vacina podem ser exacerbados;

Imunização (Hepatite B):

Deve ser administrada as 3 doses ( nascimento, 1 mês, e 6 meses de vida) . Reforços em cada 5 anos após o término do esquema ou quando os títulos estiverem abaixo dos níveis de proteção;

Imunização (H. Influenzae):

De 2-6 meses de idade devem ser administradas 3 doses em intervalos de 2 meses

7 meses a 1 ano de idade: administrar 2 doses com intervalo de 2 meses; Em ambos os casos, o reforço deve ser administrado com 1 ano e 3 meses de idade;

A partir de 1 ano até 18 meses de idade: administrar DU;

Penicilina Profilática:

Penicilina 125 mg VO 2 vezes ao dia entre 3 meses e 3 anos e 250mg 2 vezes ao dia até 5 anos.

Drogas eTratamentos em Estudo:

  1. Hidroxiuréia: Aumento da Hemoglobina fetal prevenindo a formação de polímeros de Hemoglobina S. A hidroxiuréia também aumenta lentamente a concentração total de hemoglobina.
  2. Desferrioxamina: remove o excesso de ferro do corpo, resultante das transfusões periódicas;
  3. Eritropoitina recombinante humana;

2 comentários:

Unknown disse...

meu esposo tem anemia falciforme,quando ha dor nao passa com analgesicos como,dipirona,paracetamol..é necessario doses de tramal,morfina,dolantina,,e quando chega a nao cessar,por que alguns profissionais da saude julga dizendo que o pciente é viciado,é facil falar de alguem,dificil é estar sentindo o que aquele alguem sente..fico indignada com tanta hipocresia e falta de compromisso com o juramento que os medicos fazem..salvar vidas e evitar sofrimento..acredito que deve existir profissionais dignos,,mas assim como a anemia falci forme é uma doença rara,,profissionais da saude compromissado com a sua profissao é raro também...por favor me perdoe estou tao cansada de ver meu esposo sofrer em filas de hospitais e receber piadinhasz ..tais como..ele so grita so reclama eu ja mediquei..sabe o que fizeram com ele em umhospital aqui de sao paulo.. hospital bairro dos pimentas em guarulhos,no dia 31 de dezembro pra nao atrapalhar a virada de ano deles..por que ele gritava de dor,deram haldol tres veses seguidas pra ele calar a boca..ele deu entrada na uti em seguida e ficou entubado por 13 dias..ele apos tomar o haldol o qual ele nunca tinha tomado antes ..ficou catatonico e nem se que instalaram um cateter de o2 ,ele estava tomando morfina e a dor nao cedia,,ele quause morreu,mas nao morreu...om que fazer com tanto descasso..por favoe aceito que me envie alguma resposta sobre como oferecer um tratamento digno a a ele meu email:mariaerondir@hotmail.com ele tem umsite pois ele é cabeleleiro apeasar de tudo...mghairdesigner.no.comunidades.net por favor me responda

Unknown disse...

desculpe quem escreveu esse comentario acima foi a esposa do moises..meu nome é maria erondir ...aguardo resposta